segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Metallica - Uma breve análise

Às vezes diz-se muita coisa sem se pensar realmente se é verdade ou não, deixamo-nos levar por opiniões anteriores e nem sequer reflectimos sobre isso. Ponto prévio, a minha análise tem o enfoque no mainstream rock. A discografia dos Metallica é um claro exemplo disso, os Metallica foram por muitos acusados de se terem vendido, de terem deixado de ser verdadeiros e só fazerem música “comercial”, de terem abandonado as suas origens que se encontram no Thrash Metal, bem esta última é mesmo verdade mas as outras afirmações a mim não me soam assim tão lineares e correctas. Ponto de ordem, para mim os álbuns da banda que estão mais de acordo com o que se fazia na sua respectiva época são o “…& Justice For All” e o “St. Anger” respectivamente o meu preferido e o álbum deles que eu mais abomino. Deixo aqui uma pequena retrospectiva sobre a discografia oficial de originais de Metallica e a sua respectiva contextualização histórico/musical: O primeiro álbum de Metallica lançado é 1983 é “Kill ‘Em All”, é marcado pela juventude da banda, pela sua vontade de conquistar o seu lugar na história da música. O som é furioso, veloz, puro Thrash Metal da Bay Area, com o peso do Heavy Metal influenciado por nomes da NWOBHM e nota-se também, claramente a influência da fúria do Punk. Na época do lançamento deste álbum a cena musical do Hard Rock/Heavy Metal estava ainda a dar os primeiros passos nos anos 80, em especial nos Estados Unidos da América, uma vez que na Europa já havia o sucesso de nomes como Iron Maiden e Judas Priest. Quando em 1984 é lançado o segundo álbum de Metallica “Ride The Lightning” nota-se uma enorme diferença musical, o álbum continua a ser Thrash, mas o som já é mais polido e técnico. Já se encontra nele melodias menos intensas, como “Fade To Black” mas músicas como “Creeping Death” ou a própria “Ride The Lightning” mostram que a banda ainda tem muita fúria e peso para oferecer aos seus fãs. A aceitação do Heavy Metal/Hard Rock nesta época é crescente, juntando-se ao sucesso de Judas Priest e Iron Maiden nomes como Twisted Sister, Scorpions, Motley Crue, Quiet Riot e Ratt, o Heavy Metal/Hard Rock dispara nos Estados Unidos da América. O terceiro álbum de Metallica é “Master Of Puppets” um álbum pesado mas com muita melodia, a banda demonstra neste álbum claramente que vai perdendo peso com o tempo e ganhando classe, técnica e fãs. Este álbum foi lançado em 1986 e contém pedradas como “Battery” e “Master Of Puppets”. Foi com este álbum que os Metallica tocaram pela primeira vez no mainstream. Na época do seu lançamento bandas como Bon Jovi ou Europe estavam a levar pela primeira vez o Hard Rock (também chamado de Heavy Metal/Hair Metal/Glam Metal nos Estados Unidos da América) a uma exposição brutal ao nível das rádios e da MTV. O quarto álbum de Metallica “…& Justice For All” é lançado em 1988, é o último sopro de Thrash na discografia de Metallica, foi lançado no período de maior boom do Hard Rock/Heavy Metal e, é exactamente por isso que eu digo que este é um dos álbuns mais de acordo com o que era mainstream na época, mais comercial. Nesta época ao sucesso de bandas anteriores juntam-se nomes como Guns N’ Roses, Queensryche, Fates Warning, é também importante notar que o som dos Iron Maiden também se alterou e ganhou alguns toques progressivos que influenciaram o álbum dos Metallica. “…& Justice For All” é uma inflexão no percurso da banda, é mais intenso que Master Of Puppets mas o que ganhou em intensidade e qualidade de arranjos, perdeu em peso e nisso manteve a trajectória da banda na "suavização" do som, este é o álbum mais técnico, com arranjos mais complexos que a banda algum dia fez mas apesar disso foi lançado numa época em que esses aspectos eram valorizados e por isso eu acho que o álbum está de acordo com a sua época de lançamento. Ao quinto álbum, “Metallica” ou “Black Album”, lançado em 1991 surge a polémica, os fãs mais true, mais Thrash abominam a trajectória que a banda toma, ao abandonar totalmente o Thrash, o mainstream delira e Metallica ganha 20 fãs por cada 1 que perde. Metallica atinge o topo do seu sucesso. Mas será que este álbum foi realmente uma concessão ao mainstream e uma tentativa se ser comercial? Ou será que foi o trabalho que a banda queria fazer e mesmo assim conseguiu um sucesso brutal? Em primeiro lugar a banda deixou de vez o Thrash e abraçou o Heavy Metal mais tradicional, porque não dizer, mais radiofónico, mas existe aqui um dado que muitas vezes é esquecido, em 1991 quando o álbum é lançado o Heavy Metal/Hard Rock estava em declínio, de todas as bandas que tinham feito sucesso anteriormente sobravam os Guns N’ Roses e os Metallica, o grunge tinha tomado as rádios de assalto e eram as bandas deste estilo que começavam a ser mainstream nesta época. Será ser comercial uma banda lançar um álbum numa fase em que o estilo do álbum está em declínio? Em “Metallica” é óbvio que a banda suavizou o som, mas acredito mais que tenha sido vontade própria e não qualquer tentativa de vender. Este álbum possui lindas baladas como “Nothing Else Matters” ou “The Unforgiven” mas também possui pedradas Heavy Metal como “Of Wolf & Man” e “Sad But True”. Foi este álbum que consagrou definitivamente os Metallica no mainstream musical e que os levou aos estádios de todo o mundo como banda principal. Depois de uma longa pausa, em 1996/1997 são lançados 2 álbuns que eram para ser apenas 1. Por isso a análise que faço deles é em conjunto. “Load” e “Reload” são abominados pela maioria dos fãs da banda, apesar de serem Heavy Metal, são os álbuns mais leves da carreira da banda, apresentam influências Country, Pop e muito mais vincadamente de Hard Rock, Na época que foi lançado o mainstream do Rock estava a ser dominado pelas bandas grunge e por uma onda britpop com o seu Pop/Rock meloso que se destacava, em especial na Europa. É claro que o som dos Metallica se suavizou, é claro que o visual deles também se transformou mas tudo isto é motivo para tantas críticas? Não terão os álbuns boas músicas? Boas melodias? Bons riffs? Álbuns com músicas como “Devils Dance”, “The Memory Remains”, “Fuel”, “Until It Sleeps”, “Outlaw Torn”, “King Nothing”, “Unforgiven II” e até mesmo “Hero Of THe Day” não podem ser considerados assim tão maus, estas músicas têm muita qualidade. Apesar das críticas de comercialismo, para mim este é o álbum que está mais fora do maintream Rock da sua época. Nova longa paragem e no novo século sai um novo álbum em 2003, “St. Anger”, este álbum volta à “violência” sonora de “Kill Em All” mas perde totalmente a sua aposta ao retirar a técnica das faixas, ao retirar os solos, ao apostar num som totalmente básico e sem chama, só peso e poucos arranjos. Este álbum é também um dos que eu acho mais próximo do mainstream Rock da sua época, quando foi lançado eram nomes como Slipknot, Limp Biskit, Korn que eram os preferidos do Rock, o seu som básico e agressivo influenciou os Metallica que apesar de não terem a vertente “Rap” nos vocais tal como as outras bandas, a nível instrumental foram influenciados. Os elementos deste álbum são também indissociáveis aos problemas internos pelos quais a banda passou, pela terapia para que os elementos da banda se conseguissem entender. Em 2008 os Metallica lançam “Death Megnetic”, um bom álbum que conseguiu fazer sucesso, para alguns foi um regresso às origens mas acredito que não, este álbum apesar de algumas faixas mais pesadas como “All Nightmare Long” apresenta-nos o som que consagrou os Metallica no seu “Black Album”, não deixando de nos trazer uma bela balada “Unforgiven III”, a última da trilogia “Unforgiven. É impossível a uma banda grande, seja ela qual for, manter a qualidade em todos os álbuns, por um lado os elementos das bandas mudam, envelhecem, amadurecem, ganham novas experiências e novas influências e por outro lado os fãs dificilmente conseguem perceber que nem sempre a alteração do som de uma banda é uma concessão a quem quer que seja, mas apenas e só a vontade de fazer um trabalho diferente.

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